Revista Marie Claire – Agências de casamento por que não?

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Revista Marie Claire – Agências de casamento por que não? – Está crescendo o número de homens e mulheres, de 25 a 35 anos, que decidem buscar um grande amor nas agências de casamento. Bem-sucedidos e interessantes, eles revelam nesta reportagem por que abriram o coração para esse tipo de Cupido, que cobra caro e promete mais segurança do que a internet ou a balada.
Se, no passado, as agências de casamento eram um serviço exclusivo para encalhados ou esquisitos, hoje o perfil dos candidatos é outro. Mais da metade dos 8 mil inscritos nas três maiores agências do país são homens e mulheres entre 25 e 35 anos. A maioria tem nível superior completo e pós-graduação. Já viajou muito ou morou fora do país e tem vida social ativa. Além do currículo promissor, todos têm um desejo em comum: casar -ou, pelo menos, namorar sério. A maioria já cansou das baladas e da internet, onde só se conjuga o verbo “ficar”, e não quer mais perder tempo com as armadilhas da conquista. “Esse dado é um pouco assustador, pois até os mais jovens, que teriam possibilidades de achar alguém na noite, na faculdade ou viajando, estão deixando nas mãos de terceiros a tarefa de encontrar um par. Por outro lado, faz sentido: o mundo está mesmo mais ameaçador. A tensão entre o desejo de encontrar um amor e o medo do que virá é maior hoje do que no passado”, acredita o psicoterapeuta Otávio Dutra de Toledo, de São Paulo.

CARTAS NA MESA
Os novos candidatos das agências de casamento buscam mais segurança. Para isso, investem de R$ 750 a R$ 4 mil no serviço de agenciamento. Todos assinam um contrato e o processo começa com uma entrevista real, não virtual. Após conhecer o sistema, ele ou ela é convidado a ter uma conversa com o psicólogo, que faz uma avaliação de seus desejos, medos e ansiedades. Além disso, é preciso preencher uma ficha e responder a um questionário extenso. São mais de cem itens: gosto musical, hobby, crença religiosa, se quer ou não ter filhos, se aceita alguém que tenha filhos, alguém mais velho etc. Uma foto acompanha a ficha, que é acrescida de uma série de certidões de idoneidade: se a pessoa tem antecedentes criminais, se o estado civil confere com o declarado, se não tem pendências com a Justiça, nem dívidas espalhadas por aí. É, ainda, firmado um acordo jurídico, em que a empresa garante sigilo absoluto. Como nos grandes centros urbanos, há mais mulheres do que homens à espera de Cupido. A maioria delas é solteira. A maioria deles quer um segundo casamento.

OS IGUAIS SE ATRAEM
Para formar os casais, as empresas analisam as fichas e apostam que os iguais se atraem. A escolha é feita com cruzamentos de dados físicos, preferências, traços da personalidade, valores éticos. Outro detalhe: as agências só aceitam heterossexuais e as regras são conservadoras. “Quando um casal tem perfis compatíveis, mostramos as fichas de várias moças para o homem”, explica Claudya Toledo, da agência A2, que existe há 14 anos e funciona numa casa discreta, em um bairro residencial de São Paulo. “Ele escolhe a mulher que mais o agrada e, só então, enviamos a ela a ficha de seu pretendente. O homem tem o poder da escolha, mas é ela quem decide se podemos passar seu telefone para o candidato ou não. Aí ele liga e marcam um encontro em um lugar público, nunca pela internet. Depois, a agência pergunta aos parceiros se querem continuar com aquela pessoa ou se preferem conhecer outras. Se o namoro engata, a ficha do casal fica bloqueada”, explica. Então, esse tipo de rastreamento garante que o namoro vai durar? “Não. A compatibilidade ajuda, mas é a química que transforma um encontro em um namoro. Não há ficha compatível capaz de prever ou assegurar isso”, diz o psicólogo Carlos Gustavo Mantefe, doutor em psicologia pela Unifesp e consultor da agência Lunch for Two, que funciona há mais de dez anos, num escritório, nos Jardins, região nobre de São Paulo.

SEGREDO E PRECONCEITO
Temendo o julgamento alheio, a maior parte das pessoas que procura as agências de casamento não conta isso nem ao melhor amigo. Por quê? Segundo o psicólogo Mantefe, esta é mais uma paranóia da nossa cultura. “As pessoas têm medo de serem mal julgadas. Afinal, no senso comum, só usa esse serviço quem não conseguiu encontrar um par por mérito próprio”, diz ele. “Muita gente desinformada acha que quem procura uma agência é encalhado, tímido, feio e limitado. Ledo engano. Pessoas problemáticas não vão encontrar ninguém em uma agência matrimonial nem em lugar algum”, diz Sheila Rigler, pedagoga e proprietária da Par Ideal, agência que opera há 11 anos, numa casa com decoração sóbria, em Curitiba.

A analista de sistemas Ilce*, 28 anos, e o advogado Júlio*, 34, de Curitiba, estão casados há três anos e o segundo filho está a caminho. Mas, depois desse tempo todo, só os pais dela e a irmã dele sabem que o casal se conheceu por meio da agência de casamentos. “Esse é o nosso segredo. Para os amigos, contamos que o primeiro encontro foi por acaso, numa boate”, conta Ilce, que ficou dois anos cadastrada na Par Ideal. “Eu tinha medo de ficar solteirona. Me sentia muito sozinha e estava cansada de procurar alguém interessante na balada. Sair só para transar não me agradava. Meus pais são casados, felizes e eu me perguntava: como eles conseguiram e eu não?”

Júlio ficou só um mês cadastrado. Com boa situação profissional, casa própria, carro importado na garagem, ele vivia com medo de que as mulheres que conhecia nas baladas estivessem mais interessadas no seu talão de cheques. Achou que, pela agência, seria mais fácil encontrar alguém que não desse tanta atenção às aparências. “A Ilce foi amor à primeira vista”, diz Júlio. “Mas não contei para ninguém que estava indo até a agência. Acho que as pessoas entenderiam isso como incompetência. E, para um homem, é difícil enfrentar essa sentença”, diz Júlio.

Mas alguns casais estão tão satisfeitos que não escondem qual foi o Cupido que disparou a flecha do amor. A terapeuta Márcia Scalice Nunes, 34 anos, e o geógrafo Alexandre Prestes, 32 (na foto ao lado), moravam no mesmo bairro, mas só se encontraram por intermédio da Agência A2. Estão juntos há quase um ano. Márcia já indicou a agência para as amigas e Alexandre não se intimida em fazer o mesmo. “Olhando as estatísticas da agência, vi que a chance de um encontro dar certo é de 70%. Essa probabilidade é muito superior a de um outro encontro aleatório. Sair à noite, em busca de alguém é um tiro no escuro, se joga só com a sorte”, diz Alexandre. Para ele, que já tinha visto o perfil e a foto da Márcia, a primeira saída foi certeira. O pedido de namoro veio no dia seguinte. O casal tem planos de terminar o ano debaixo do mesmo teto. E viver, finalmente, o “enfim, sós” -a dois.
“Na primeira entrevista, vi um rapaz jovem e bonito deixando a sala da psicóloga. Isso me empolgou” Márcia

COMPASSO DE ESPERA
A estudante de direito Gabriela*, 22 anos, não pára de se perguntar: “O que há de errado comigo? Tenho 1,70m de altura, 59 quilos, cabelos castanhos-claros, olhos verdes, faço academia, estudo e trabalho. Adoro conversar, me considero inteligente, atraente e simpática. Então, por que não consigo namorar sério?”, desabafa. “A moça pode estar procurando compromisso nos lugares onde a ordem é ‘ficar’, pode estar presa a um namoro do passado ou traumatizada por uma desilusão. Mas tudo tem jeito”, responde a agenciadora Claudya Toledo.
Gabriela acabou de se cadastrar na Par Ideal. “Assim, a diferença é que o rapaz indicado pela agência quer a mesma coisa que eu: namorar firme. Se não quisesse, não ia investir tempo e dinheiro nisso”, diz ela. No compasso de espera do primeiro encontro, ela já percebeu que essa brincadeira exige paciência. O processo inicial, entre entrevistas e cadastro, demora até um mês. E o primeiro encontro pode acontecer até dois meses depois disso. A cada primeira saída, é preciso dar um retorno para a agência, contar como foi o encontro e também apontar falhas no parceiro indicado. Isso ajuda numa próxima seleção. As empresas têm psicólogos a postos para atender candidatos muito ansiosos com a espera ou frustrados, depois de encontros mal-sucedidos.

“Não tenho vergonha de dizer que conheci a Márcia, meu grande amor, pela agência”Alexandre

Juliana*, 33 anos, professora universitária e estudante de pós-graduação de literatura, de São Paulo, sabe o que é superar essa fase de espera. “Isso deprime mesmo. É estranho ficar esperando ser a escolhida. Quando eu tinha quase 30 anos, me sentia sozinha e a angústia de querer uma família me massacrava. Para resolver o problema, resolvi ser objetiva e me cadastrei numa agência. Depois de dois meses de espera, fui apresentada a três homens que, como eu havia pedido, tinham estabilidade financeira e queriam compromisso sério. Só o terceiro, o Fred*, me interessou. Mas ele demorou três meses para resolver me encontrar de novo. Estava enrolado com outras histórias. Eu quase morri de ansiedade e tive o apoio do psicólogo da agência. Não tinha jeito de não passar por isso, mas valeu a pena. Fred e eu nos casamos há três anos e há oito meses nasceu a Luísa*. Agora, minha vida está completa.”

*os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados

Por Liliane Oraggio Cocchiaro e Ana Holanda

Fonte: http://revistamarieclaire.globo.com/Marieclaire/0,6993,EML1326748-1740,00.html

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