A palavra Metamorfose ou transformação, tem origem no Grego antigo e lá, na antiguidade foi título de uma obra do escritor Ovídio. Todos já ouvimos falar em metamorfose, mesmo que seja no sentido biológico, da larva se transformando em borboleta, e de muitos outros exemplos. Mas a metamorfose é ao mesmo tempo em que a entendemos como um processo de transformação, um processo de radical mudança, é a possibilidade de “ser novo”, tornar-se a novidade ou recriar-se.
Como em Ovídio, foi tema de muitos outros escritores como Franz Kafka e Hermann Hesse. Este último nos revela no Conto Metamorfose ou a Lenda de Piktor, um processo de busca da felicidade e da completude que para ele se resume a um encontro do duplo, homem/mulher, sol/lua e nesse encontro a felicidade plena através da comunhão de sentimentos e trocas que se pode ter num relacionamento.
Na passagem onde Ovídio descreve a paixão avassaladora de Febo por Dafne e a fuga desta, desesperada para preservar sua virgindade, e fugir do assédio do Deus, percebemos como a simbologia da metamorfose acontece:
Mas o perseguidor, com as asas do Amor, é mais esperto e não se cansa e acossa as costas da fugitiva e assopra-lhe o cabelo e a nuca. Ela, esgotada pelo esforço, empalidece, com o labor da fuga e implora a Peneu: “Se os rios têm poder divino, pai, socorre-me! [Ó Terra, traga ou fere o que me traz feridas,] muda minha aparência, aprazível demais!” Mal finda a prece, invade-lhe um torpor os membros, seus seios tenros são por fina casca envoltos, dos cachos crescem folhas e ramos dos braços; pés tão velozes fixam-se em lentas raízes, em seu rosto coberto, um brilho apenas resta. Entanto, Febo segue amando; e pondo a destra no tronco, sente o peito tremer sob a casca e, os ramos abraçando, qual membros, recobre-o de beijos; mas o tronco se esquiva aos seus beijos. Diz-lhe o deus: “Já que não podes ser minha esposa, serás a minha árvore; sempre a terei nos cabelos, na cítara e aljava, ó loureiro.
A metamorfose de Dafne em árvore é a metáfora das cascas com que nos recobrimos em nossas vidas, fugindo dos perseguidores com quem nos encontramos em nossos caminhos, sejam eles reais ou frutos da vivência sistêmica de nossos antepassados.
Mas mesmo que o “perseguidor” não desista de sua perseguição, de certa forma encontramo-nos protegidos pelas cascas com que revestimos nosso corpo e nossa alma. Mas será mesmo?
Essas cascas que nos envolvem nos isolam do mundo e das percepções do novo e das descobertas. Nos tornam refém de nossa própria existência e onde pressupõe segurança, exala insegurança e solidão. Compreendemos então que as cascas não nos protegem das agressões do mundo exterior, mas sim nos isolam da vida.
Importante descobrir as cascas que recobrem nossa alma e compreender onde elas se originam, para podermos dar conta de nos desnudarmos delas e descobrirmos nossa essência real.
Voltando à metamorfose, as diversas obras literárias e poesias que falam dela, as metáforas que acompanham as transformações, como da larva em borboleta e da terra ao ar, do peso à leveza, nos remetem a uma análise de como podemos incluir esse tema nas constelações sistêmicas.
Percebemos que quando os intérpretes vivenciam um processo de sensações e sintomas dos personagens ligados ao constelado, eles passam a compreender melhor seus próprios processos internos e geracionais. Ele vai de uma larva a um casulo e deste à borboleta que pode voar na leveza do entendimento e do conhecimento melhor de si mesmo.
É durante esse processo que constelador, interpretes e constelados se transformam e, consequentemente, atuando no campo quântico e atemporal, transformam antepassados e futuras gerações.
Transformar é um processo de metamorfose que acontece durante o processo constelatório e pode trazer inúmeros benefícios.
Vale muito a pena ler essas obras, em especial o conto de Hermann Hesse, que mostra a dualidade do ser humano, mostrando-o duo, mais que uno, mas ao mesmo tempo mostra a possibilidade eterna de transformações e, portanto de metamorfoses que temos a disposição em nossas vidas.
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